terça-feira, 28 de jun de 2022
Nesta terça-feira, completa um mês desde o dia mais sangrento no Estado no século, quando as fortes chuvas na Região Metropolitana do Recife deixaram mais de um centena de mortos, cujos corpos foram encontrados após dias de intensas buscas. Mas aquele 28 de maio de 2022 nunca passou para Reginaldo Ramos Feitosa. Mais do que a casa, ele viu a vida também desabar naquele dia. Ao todo, 12 familiares – entre eles, a filha – foram arrastados pela força do barro e do descaso público que ainda se repete dia após dia contra cada um dos atingidos.
O lar que construiu com o salário de motorista de ônibus junto a esposa e as duas filhas no Jardim Monte Verde, entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, se foi. “Foi onde consegui morar e educar meus filhos. Aqui, fizemos festas, comemorações, aniversários. 32 anos de alegria perdidos para 20 minutos de tristeza. Eu não caí em mim ainda”, desabafou ele. “Minha filha, que era engenheira, sempre dizia: ‘pai, agora que estou trabalhando vou ter condições de tirar você, minha mãe e minha irmã daqui’, mas o sonho foi interrompido por essa tragédia.”
A lista de vítimas fatais em decorrência das chuvas, com 130 pessoas, ao todo, começou a ser escrita em 25 de maio, com cinco vítimas. Mas a grande maioria delas – 102 – foram acrescentadas no sábado (28). Do total, 120 pessoas (92%) faleceram por deslizamentos de barreira – como a família de Reginaldo. A maioria das mortes aconteceu em Jaboatão dos Guararapes (64), seguida do Recife (50). Depois, vem Camaragibe, que registrou 7 mortes e Olinda, com 6. Limoeiro, Paulista e Bom Conselho tiveram, cada uma, um registro.
O Governo de Pernambuco prometeu uma pensão vitalícia no valor de um salário mínimo aos dependentes das vítimas fatais, e uma parcela única de R$ 1,5 mil para desabrigados e desalojados que integram o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). O governo federal liberou o saque do “FGTS calamidade” para as cidades em que decretou situação de emergência.
Mas ao voltar aos pontos mais atingidos, a reportagem se dá conta de que ainda há muito a ser feito. Reginaldo, por exemplo, não encontrou forças para voltar a trabalhar e não recebeu uma só assistência governamental, apesar de ter tido a casa destruída. “A ajuda chegou pela população, por ONGS e por voluntários, mas a Prefeitura não dá apoio. Esperamos que eles façam o papel deles, porque realmente precisamos”, pediu ele, que está morando na casa dos pais.
A Prefeitura do Recife informou que mais de 9,5 mil famílias receberam o auxílio das 32 mil famílias cadastradas. Em Jaboatão, 239 famílias foram cadastradas, mas “por pendências de documentos ou inscrições no CadÚnico”, só 59 pagamentos foram feitos. Em Olinda, 106 das 246 famílias que estavam acolhidas em abrigos foram beneficiadas pelo auxílio até agora. Em Camaragibe, foram cadastradas 80 famílias, mas não foi informado quantas dessas já receberam.
Por Katarina Moraes