quinta-feira, 31 de ago de 2023
Milhares de investigações instauradas para apurar crimes de homicídio em Pernambuco continuam sem respostas, como apontam estatísticas obtidas pela coluna Segurança por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Somente entre os anos de 2017 e 2022, a polícia somou 23.029 inquéritos. Desse total, 8.131 ainda estão sem conclusão.
O ano com menor taxa de resolução é 2017, quando houve recorde histórico de homicídios no Estado. De acordo com a Polícia Civil, 5.306 foram inquéritos instaurados para apurar esses crimes. Até hoje, 2.009 foram encerrados com a identificação dos suspeitos. Outros 341 foram concluídos, mas a polícia não conseguiu descobrir os responsáveis pelas mortes. A taxa de resolução ficou em 44,2%.
O levantamento mostra o tamanho do desafio do programa Juntos pela Segurança, que substituiu o Pacto pela Vida, para identificar autores de crimes e diminuir a impunidade em Pernambuco.
Um dos crimes de maior repercussão do Estado nos últimos anos, e que ainda permanece sob mistério, é o assassinato do professor e coordenador pedagógico José Bernardino da Silva Filho, o Betinho, de 49 anos. Ele foi encontrado morto no apartamento onde morava, no Edifício Módulo, no bairro da Boa Vista, área central do Recife, em 16 de maio de 2015.
Na época, peritos papiloscopistas do Instituto de Identificação Tavares Buril afirmaram que digitais de dois estudantes do Colégio Agnes, onde Betinho trabalhava, foram encontradas em uma cômoda e em um ferro de passar. Por isso a dupla foi indiciada pelo crime. Posteriormente, duas perícias – uma da Polícia Federal e outra do Instituto de Criminalística – apontaram que as digitais não eram da dupla. Numa revisão, os peritos do laudo inicial reconheceram o erro.
Em janeiro de 2019, os suspeitos foram inocentados e a Justiça determinou a reabertura das investigações. O delegado Roberto Lobo, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), assumiu o caso, mas, até hoje, não concluiu o novo inquérito. Por telefone, o delegado informou à coluna apenas que segue investigando o crime.
Enquanto isso, familiares de Betinho seguem à espera de justiça. E torcem para que a morte dele não seja mais um caso em que a impunidade prevaleça.
“Sempre vou ao DHPP para saber informações e converso com o delegado para cobrar. Quando não posso ir, ligo. Mas estamos sempre em contato para que as investigações não parem. Vamos continuar lutando para que o caso do meu irmão seja esclarecido pela polícia”, disse Sandra Pereira, irmã de Betinho.
POLÍCIA CIVIL DIZ QUE ESTUDA REDUÇÃO DE ACÚMULO DE INQUÉRITOS
Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou que a taxa de resolução de homicídios no Estado “é atualmente de 56%, valor acima da média nacional”.
“Ressaltamos que, desde 2017, ano com os maiores números de MVIs (mortes violentas intencionais) em todo o País, os índices de resolubilidade em Pernambuco, têm subido. Estudos estão sendo realizados para a redução dos inquéritos ainda não concluídos”, disse o texto.