sexta-feira, 16 de maio de 2025
Conhecido por produzir shows de artistas famosos e ostentar uma vida de luxo nas redes sociais, o empresário pernambucano Saulo Ferreira Melo, de 34 anos, é acusado de agredir a ex-mulher e usar o nome dela para contrair dívida milionária. Ele, que é considerado foragido da Justiça, alega inocência.
O empresário é proprietário da Agittos Promoções e Eventos, responsável por uma série de shows no estado. Ele foi alvo de mandado de prisão preventiva, emitido em 28 de abril, pelos crimes de ameaça, estelionato e violência doméstica.
Saulo já havia entrado na mira da Polícia Civil após a polêmica envolvendo o Rock Remembers – festival que prometia levar astros da música brasileira para Olinda, no Grande Recife, em julho de 2024. Os shows foram cancelados na véspera da data prevista, o que motivou um inquérito na Delegacia do Consumidor, ainda em andamento.
Até hoje, parte do público o acusa de ter sumido com o dinheiro dos ingressos e cobra a devolução desses valores no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Ao investigar o episódio do festival, Saulo também enfrenta outras quatro ações criminais – entre elas, casos relacionados a violência doméstica e familiar.
Duas ex-companheiras e um parente do empresário aceitaram conceder entrevista sob condição de anonimato. Em comum, as mulheres relatam situações de agressões físicas e prejuízo financeiro. Por sua vez, o parente endossa a prática de golpes, por parte do empresário, que teriam resultado em dívidas de mais de R$ 2 milhões, considerando todas as vítimas. Saulo nega as acusações.
Chantagens e ameaças
Entre os casos, o que já resultou em denúncia do Ministério Público (MPPE) e no mandado de prisão preventiva é o da ex-mulher Alice (nome fictício), com quem o empresário se relacionou por 1 ano e 4 meses, entre 2023 e 2024. Ao Diario, a vítima afirma que “vivia o auge da sua vida profissional” quando conheceu Saulo.
“Eu conseguia juntar dinheiro, estava trocando de carro, indo para um plano de saúde melhor e até ajudando a minha mãe”, diz. A relação foi intensa. Em poucos meses, o casal ficou noivo e formalizou a união estável.
Segundo relata, o empresário a fazia se “sentir especial” no começo. Com o tempo, ele teria passado a pressioná-la para pagar por bens de luxo e ainda cobrir despesas ligadas à produtora Agittos, que já estaria com problemas financeiros. O modus operandi para convencê-la envolveria chantagens emocionais, agressões e ameaças.
“Ele dizia que, para ser mulher dele, tinha que andar nos melhores carros, morar nos melhores lugares e usar as melhores roupas”, afirma Alice. “Meu cheque especial era de R$ 150 mil. Ele queria o dinheiro por causa de um problema na Agittos, mas eu não queria dar. Então, ele dizia que a secretária o ajudava e era ‘muito mais mulher’ do que eu. Ele me fez achar que estava louca. Fiquei com peso na consciência e cedi”.
‘Momentos de terror’
Durante o relacionamento, Saulo também teria assumido controle sobre as declarações de renda da mulher. Para isso, alegou sentir ciúmes do contador que até então era responsável por enviar as informações à Receita Federal (RF), de acordo com Alice.
“Ele foi no meu imposto, declarou [um valor] muito alto e conseguiu créditos nos cartões”, diz a vítima, que só teria descoberto parte dessas manobras após a separação. Atualmente, ela calcula ter uma dívida na casa do R$ 1 milhão – incluindo cobranças da RF e créditos que não conseguiu honrar.
Em meio ao crescimento de débitos, a relação teria escalado para episódios de violência física e psicológica. Alice declara ter sido agredida diversas vezes em um intervalo de menos de 15 dias, em março de 2024.
Em uma delas, foi socorrida ao hospital com uma contusão no dedo. “Eu me internei lá com medo, saí de casa apavorada, super assustada, chorando. No dia seguinte, eu fui para um hotel me abrigar”, afirma.
Ao decretar a prisão preventiva do empresário, a juíza Catarina Vila-Nova Alves de Lima, do TJPE, considerou que “existe a necessidade de uma ação mais incisiva do poder estatal” para “salvaguardar a integridade física” de Alice. Também avaliou que a vítima “sofreu momentos de terror com as atitudes praticadas pelo requerido”.
“Ademais, há indícios de autoria bastante significativos, como se infere no boletim de ocorrência registrado perante a autoridade policial, permitindo a essa magistrada concluir pela imprescindibilidade da decretação da prisão preventiva”, registra, na decisão.
Empresário alega inocência
Em 17 de março, em meio à apuração desta reportagem, o empresário entrou voluntariamente em contato com o Diario, por WhatsApp. Na mensagem, que tratava apenas da polêmica do Rock Remembers, ele negava ter dado calote em artistas e clientes do festival e se colocava “à disposição para entender e esclarecer melhor”. “Eu apenas fali e não moro mais no Brasil”, disse.