Após mais de 20 anos, acusados de matar promotora de Justiça em Igarassu vão a júri popular

  02 de agosto de 2023
Fabiano Saint por Fabiano Saint

Após mais de duas décadas de impunidade, quatro homens acusados pelo assassinato da promotora de Justiça Maria Aparecida da Silva Clemente, de 43 anos, vão a júri popular. A decisão foi assinada pela juíza Ana Cecília Toscano Vieira Pinto, da Vara Criminal de Igarassu.

José Aderval Clemente, Emilson dos Santos Davi, Luciano Pereira da Silva e Alberto Carlos da Silva respondem pelo crime de homicídio duplamente qualificado, ocorrido em Igarassu, no Grande Recife, em 7 de abril de 2001.

As investigações apontaram que José Aderval, marido da Maria Aparecida, teria contratado os outros acusados para cometerem o sequestro e o assassinato da promotora. “Emilson e Luciano, juntamente com mais dois indivíduos já falecidos, foram os executores do crime, arrastando a vítima de um supermercado em que estava, levando-a para o lixão de Igarassu e efetuando disparos de arma de fogo contra a mesma”, afirmou denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

Os executores teriam recebido o valor de R$ 10 mil para a prática do crime. Eles teriam sido contratados para executar o crime por Alberto Carlos.

José Aderval teria encomendado o crime porque a promotora queria a separação e não concordava mais com a forma como o marido conduzia os seus negócios, com altas dívidas, judiciais e extrajudiciais, execuções e empresas em nome de “laranjas”. Consta, ainda, que foram realizados saques na conta da vítima, logo após o seu “sequestro”, numa tentativa de se confundir o trabalho da polícia, bem como trazer aos autos, uma outra linha de investigação.

O QUE DIZ O MPPE?

“Maria Aparecida não foi morta por ser Promotora de Justiça, e sim porque, como muitas mulheres, simplesmente decidiu por fim à sua relação conjugal, tendo seu então esposo encomendado sua morte, como revelam os elementos de prova obtidos”, disse a promotora Ana Clézia Ferreira Nunes.

“Quando ocorreu o crime, não havia sido publicada a Lei nº 13.104/2015, que prevê a qualificadora do feminicídio, mas as qualificadoras do motivo torpe e da impossibilidade de defesa da vítima foram reconhecidas como qualificadoras para serem submetidas a julgamento”, completou.

“Vinte e dois anos após a prática desse crime brutal, recebemos com serenidade e alegria a notícia da prolação da decisão de pronúncia. É um marco processual importante, porque interrompe a prescrição da pretensão punitiva do Estado e encerra a primeira fase do procedimento bifásico dos crimes dolosos contra a vida. Cabe-nos continuarmos vigilantes, para que a justiça seja feita e a memória de Maria Aparecida reparada. Pior do que justiça demorada é justiça denegada”, afirmou o promotor José da Costa Soares, que também acompanha o processo.

MENTOR DO CRIME AGUARDA JULGAMENTO PRESO

Em outubro de 2022, O MPPE conseguiu junto à Vara de Igarassu a prisão de José Aderval Clemente. O acusado foi preso, no dia 11 de outubro, em Aracaju, em uma operação do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-MPPE) com a colaboração do Gaeco do Sergipe.

Com a pronúncia, a defesa dos réus agora tem um prazo para recurso. Após isso, o júri popular terá a data marcada na Vara Criminal de Igarassu.

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