quinta-feira, 30 de mar de 2023
Após um ano, que será completado nesta quinta-feira (30), o assassinato da menina Heloysa Gabrielle, de 6 anos, na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco, permanece impune. O policial militar apontado como o responsável pelo tiro está em liberdade, não foi julgado pela Justiça e também não foi punido pela Secretaria de Defesa Social (SDS).
Heloysa foi vítima de bala perdida enquanto brincava na rua, na comunidade de Salinas. Duas viaturas com sete policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estavam perseguindo um suspeito de moto.
Na época, os policiais alegaram que houve uma troca de tiros e que as viaturas chegaram a ser atingidas. Mas a investigação indicou que o suspeito não efetuou tiros.
Isso foi comprovado, segundo a Polícia Civil, a partir dos depoimentos de testemunhas no local onde a menina foi morta e por perícias realizadas nas armas de fogo entregues pelos policiais.
As marcas na viatura teriam sido feitas pelos próprios PMs, num sinal de tentativa de fraude processual.
Os PMs do Bope contaram ter apreendido um revólver calibre 22 com três munições deflagradas e três intactas e atribuíram a arma ao suspeito que estava sendo perseguido e que conseguiu fugir.
O suspeito, posteriormente, se apresentou à polícia e afirmou nunca ter usado uma arma de fogo.
A perícia, em relatório final, também excluiu a possibilidade de o tiro que atingiu menina ter sido de uma arma calibre 22.
Os exames apontaram que o mais provável é que tenha sido de uma arma calibre .40, a mesma usada pelo cabo Diego Felipe de França Silva, que confessou ter disparado tiros durante a perseguição policial.
Diego Felipe responde, em liberdade, pelo crime de homicídio qualificado – por resultar em perigo comum e por erro de execução (quando se pretende ferir alguém, mas outra pessoa é atingida).
A primeira audiência de instrução e julgamento do caso está marcada para o próximo dia 14 de junho, em formato remoto. Testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), e de defesa (convocadas pelo advogado do PM) serão ouvidas.
O réu também será interrogado – mas tem o direito de permanecer em silêncio. Após essa fase, acusação e defesa vão apresentar as alegações finais. Por fim, o juiz vai decidir se o PM irá a júri popular.
Abalados, os pais de Heloysa não quiseram dar entrevista. Mas reforçaram que seguem esperando por justiça.
A advogada Pollyanna Queiroz e Silva, responsável pela defesa do PM, declarou que não há provas técnicas nos autos que confirmem que Diego atirou em Heloysa. “Também não existe nenhuma prova técnica para dizer que ao tiro que atingiu a menina foi disparado por algum policial. Os elementos são muito frágeis”, disse.
INQUÉRITO PARALELO DA POLÍCIA MILITAR FOI ARQUIVADO PELA JUSTIÇA
Em paralelo à investigação da Polícia Civil, que resultou no processo criminal, um inquérito policial militar foi instaurado na época.
Essa investigação apontou que o tiro que matou Heloysa teve “autoria incerta”, por isso a Polícia Militar decidiu que nenhum dos sete militares envolvidos no caso seria indiciado.
O resultado foi encaminhado, no final do ano passado, à Central de Inquéritos da Capital, do Ministério Público, que pediu arquivamento.