quinta-feira, 23 de mar de 2023
Apesar dos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de vários ministros e políticos, o Banco Central manteve-se inabalável na condução da política monetária e não deu sinais de quando pretende começar a reduzir os juros. Em termos reais, descontada a inflação, a taxa praticada no Brasil permanece no topo dos rankings globais.
O Comitê de Política Monetária (Copom), na segunda reunião do ano, ontem, decidiu manter a taxa básica da economia (Selic), em 13,75% ao ano para os próximos 45 dias, pela 5ª vez consecutiva. A decisão, que era esperada pelo consenso do mercado financeiro, foi unânime.
Além de não sinalizar quando deverá reduzir a Selic, o Banco Central deu uma resposta dura às críticas do governo. No comunicado, a autoridade monetária deixou a porta aberta para uma eventual alta da Selic se as pressões inflacionárias ganharem corpo. “O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, destacou o texto da nota do Copom.
O colegiado do BC reconheceu que o ambiente externo se deteriorou na comparação com a reunião anterior, ocorrida em fevereiro, e não deixou de destacar as incertezas na questão fiscal, devido à indefinição do novo arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública. No texto ainda reforçou que “segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”.
Dobrando a aposta
A decisão do Copom desagradou o governo e representantes da indústria, mas não surpreendeu analistas do mercado. “O Copom resolveu dobrar a aposta, olhando para frente essa inflação de 2024, que é o foco principal deles e cujas expectativas pioraram desde a última reunião do Copom nos modelos do BC. Com isso, a autoridade monetária subiu o tom neste momento, até para se resguardar da pressão política que está ocorrendo e deve aumentar nas próximas semanas por consequência da decisão e pelo tom que foi colocado no comunicado”, avaliou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Segundo ele, resta ao governo acelerar a proposta do novo arcabouço fiscal antes da próxima reunião do Copom, que ocorrerá em 2 e 3 de maio. “Se a regra nova for excelente e robusta, sem artifícios para desmontar o regramento, sem interferências internas do governo ou por parte do Congresso, o Banco Central poderá começar a pensar em baixar a taxa Selic nas próximas reuniões. O governo precisa ter esse entendimento”, avalia.
Haddad criticou ainda a possível alta de juros mencionada pelo BC, “em um momento em que a economia está se retraindo e que o crédito está com problemas, sobretudo para as empresas e para as famílias”. E prosseguiu: “O comunicado preocupa bastante, porque, a depender das futuras decisões, nós podemos inclusive comprometer o resultado fiscal”. O ministro descreveu um cenário desolador. “Daqui a pouco, você vai ter problemas das empresas para vender, recolher impostos… A nossa preocupação é essa”, afirmou.
Em tom mais incisivo, Gleisi Hoffmann atacou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. “Explica como empresários podem captar recursos com os maiores juros do mundo? Como investir se o dinheiro aplicado rende 8% reais? Você não entendeu seu compromisso com o Brasil? Seus juros só beneficiam o rentismo e quem não produz. Sua política monetária já foi derrotada”, escreveu em uma rede social. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou a decisão do Copom “equivocada” e a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) disse que os juros “são entraves ao desenvolvimento econômico do Brasil e podem prejudicar a geração futura de emprego”.